domingo, 21 de novembro de 2010
Arquipélago dos Falsários
A tentação banha os falsários. São três da manhã, uma hora suficientemente desonesta, mas às portas de tudo aquilo que nos é propício. Há sempre tempo, muito mais tempo às três da manhã (do que às duas, à uma, à meia-noite, etc.) num lugar onde a insignificância é posta à prova pela profissão intransigente e ofegante da vertigem: um quarto, por exemplo, barca inesgotável e multímoda, pira de detractores e omissos, sempre a primeira edição de um exemplar da História Universal da cobiça, com todas as suas páginas amareladas pelo vício, janelas e símbolos abertos para a cidade mortal.
Três horas antes precisamente, num bar, a vertigem apresentou-se ao piano como vendedora de destinos postiços, com serpentes como efeitos indomáveis nos cabelos molhados da chuva que já caía há dias e a indisciplina como um sal imaturo e munido de expectativas e castiçais; a origem aparecia-lhes em sonhos, a origem e a sua triste e louca dentição que iluminava a ofensa com o foco na oferta de uma noite diferente, divertida, numa grande cidade, onde a única coisa que fazemos bem (e às vezes nem isso) é cair e, por vezes, até por isso, equipar a ausência com um sistema de navegação oscular.
Suponhamos que se trata de um arquipélago (duas ilhas),
o arquipélago dos falsários, banhado pela tentação
(um excelente hermafrodita),
que capital servirá a república insular dos falsários?
onde ficará a assembeia provisória dos indecisos?
Perguntas pertinentes e a última, mesmo, voraz. Ligo o computador e visito a página da embaixada do Amor no Arquipélago dos Falsários, concorro a um anúncio para tradutor da embaixada e fico imediatamente nos quadros da empresa. Sorte ou Benefício?
Acham que eu falo e escrevo e domino muito bem,
quer o idioma de Amor, quer o de Falsários.
Pediram-me apenas que fizesse uma radiografia ao meu destino
e análises ao sangue da intuição.
Eu respondi-lhes que um beijo é sempre bilingue.
Não há anjos 100 % íngremes,
pássaros com uma só asa,
valores ciclópicos
como um poema
ou uma erecção.
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Belo!
ResponderEliminaraplaudo comovida...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarA ideia central, inspiradora do poema, aparece difusa, no centro de um círculo, que se vai alargando, em densidades crescentes para a periferia,sinalizando sugestões que acabam por se articular no pensamento/sensibilidade do leitor, que nunca deixa de referenciar aquela ideia central, agora a surgir da leitura com maior nitidez.Porque a história está lá.
ResponderEliminarExcelente trabalho este, o de esgotar todos os complexos recursos poéticos das sugestões, abdicando por completo do figurino descritivo. E é este aspecto que transmite sedução ao poema.
Este poema tem uma característica invulgar nos teus poemas, pois ao lê-lo, percebe-se perfeitamente o sentido da mensagem. O que escreveste é o que acontece a muita gente, mas escrever como tu escreves poucos conseguem. Uma leitura clara e directa mas é sempre bom ler o que escreves pois fazem-nos despertar da monotonia que muitas vezes acontece no dia a dia. Bjs da tua amiga que te admira
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