sábado, 11 de dezembro de 2010

The blind leading the naked




Um cego é guiado pelo cão do acaso até uma praia do avesso e proibida. O cego não sabe que é cego, por isso julga que vê, mas também desconhece a existência de praias do avesso e proibidas, por isso não sabe que se encontra agora, precisamente, numa delas, com um cão que o guia, como única constatação que vive fora de si e reivindica ser o vértice do poema.
Este cego tem a sensação (no mínimo) problemática que percorreu, sobre a areia húmida, influente e tórrida de Vénus, pelo menos 200m livres, descalço, ausente, inadquirido, mas ao mesmo tempo, ignora como chegou aqui, a si, assim.
A sua época é a do desmaio e da bissectriz. A sua dança, a das intermitências das despedidas.
Como um imigrante, com características inatas e omissas, falta sempre a este cego os papéis e os ingressos para o seu dia seguinte. E ainda bem que é assim, porque no dia seguinte - estão-me agora a informar pelo auricular, da produção - o cão do acaso é abatido e o cego não aguenta a perda e morre também, agarrado ao seu dono, e a praia sai do avesso e torna-se pálida e permitida
e a história tem um fim.

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