domingo, 16 de janeiro de 2011

Lição de Suicídio



Um escritor mexicano – Juan Villoro (Cidade do México, 1956) -, ao comentar as páginas suicidas de Pavese (cf. O Ofício de Viver), afirma que este foi o retrato perfeito de um “homicida tímido”, explicando depois que no “homicida tímido” confluem todas as vocações extremas de um suicida vulgar, e ainda uma outra, secreta, solene, pusilânime, de carácter mais universal, que arrastaria, como num cortejo ébrio e afónico, o resto do mundo para o mesmo fim.
O resignado desejo cósmico de um suicida, aquele que “desearía destruir su mundo y se conforma consigo mismo”, segundo Villoro, intromete-se especificamente naquela que é, provavelmente, a melhor e mais impudica observação a respeito do mesmo tema, “O suicídio é a grande questão filosófica do nosso tempo”, nas palavras de Camus.
Ora, se houver, como julgo haver, em última instância, em cada suicida, um potencial homicida insurgente, ainda que abafado, na prática, pelo pânico logístico que implicaria um esgotamento colectivo, síncrono e coincidente, e a convicção forte de que no momento seguinte a humanidade inteira passaria a ser pó de estrelas, a sentença de Camus perde a batalha contra um pormenor (o pormenor do outro e da elisão do outro no nosso enredo) e a questão central do suicídio, tout court, passaria a ser postergada por uma espécie de filantropia infernal de que só um certo tipo de suicida exigente faz gosto e apelo.

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