terça-feira, 23 de agosto de 2011

A sala vizinha



A sala é uma nave temporal e o imóvel (se existir o imóvel) viaja a uma velocidade constante e arrependida. A minha imobilidade é outra acção, uma acção superior à acção da sala, um palácio que fosse o fogo e o resultado de todas as forças em equilíbrio, num hostil e precário equilíbrio pela impossibilidade de te ver agora, ouvir a tua voz agora, friccionar a tua imobilidade agora, olear esta inércia de códigos proibidos.
A sala, apesar de tudo, apesar do seu ritmo involuntário e constante, apesar da sua aparência de sala e só de sala, apesar da sua pertinácia objectiva, apesar da sua taxidermia de sala, apesar do aspecto de animal minimal empalhado e acrítico, apesar da magreza dos adjectivos, de todos os adjectivos, a sala, esta sala, conduz-me até ti.
Porque não é o espaço que conta num país tão pequenino como o nosso. É o tempo. E há sempre salas ou coisas como salas que se dirigem estaticamente e se desprendem do tempo infinitamente para ti. E em alguma delas vou eu. Um poeta musculado pelo atrito.
O resto é feroz simetria.

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