segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Despir outra pele




O meu casaco de imposições biológicas está gasto
nos sítios onde o corpo oferece resistência ao tempo
e há um maior número de glândulas sudoríferas.
Chego a casa, dispo o casaco, e permaneço
com o casaco vestido.

A noite é uma ponte em ruínas.
A lua, um holofote de ideias fixas.
Ao longe vêem-se os cabos de sustentação
da inércia.
É inútil eleger alguma hora melhor
que nos proteja.
A minha vida é permanecer
auscultado por essa fantasmagoria.
Com ou sem casaco,
especializei-me em permanecer.

Permanecer com as metástases do meu casaco,
como as metástases do meu casaco
permanecem em mim, mesmo quando o dispo,
contemplando uma ponte em ruínas
e exercendo aí a minha permanência
o melhor que posso e sei,
24 horas por dia.

Há sempre um casaco a cobrir as costas
demasiadamente expostas da permanência.
Pêlos, ainda que pálidos e breves,
na pele postergada dos mamíferos.
E o invisível gesto de alguém que se apressa
lentamente a aconchegar-te ao primitivo,
com as mãos sujas de desdém
e a tecnologia do contacto indestrutível.

1 comentário:

  1. fiz a primeira caminhada, andré.
    quando puder, apareça no
    http://romerioromulo.wordpress.com
    meu abraço.
    romério

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