terça-feira, 8 de novembro de 2011

Marga Ethiija



Marga não morre facilmente. Se bem que à primeira vista pareça suplantar a sua irmã gémea, toda virada para a descontracção e sem o mínimo vestígio de opacidade relativa, tem, digamos, pouca flexibilidade no trato com desconhecidos, é como se pressentisse sempre a notificação do pai ausente quando um homem a aborda e se inclina. É como se nunca fosse o tempo certo para Marga, ou houvesse dentro si a previsão constante de aguaceiros que cancelassem, por si só, a ideação louca do piquenique.
Marga é a típica mulher-todavia. Sofre, escorregando pela espinha dorsal do destino, com a face ficcionalizada pela melhor aparência, é certo, mas os ossos do crânio e do rosto estão já descalcificados, e se nos conseguirmos deter violentamente no branco dos seus olhos, vamos compreender de uma vez por todas o enigma do seu inferno exíguo: toda ela está virada para o desconcerto que uma mente estrita e faminta não prescinde, mas ao qual nunca se entrega, sob pena de exasperar a sua índole e liquidar o negócio da sua estreita perfeição, aqui e no céu. Toda ela é um pedaço despedaçado de uma realidade que não vem. Ou que vem, mediocremente, de não vir. Toda ela é planta decorativa na melhor empresa que sonha herdar do futuro marido, nas imediações mortas do testamento. Toda ela é narração fantasma, pouco nutritiva. A perspicácia da beleza atirada ao canibalismo do não-ser. A falta de acontecimentos num corpo sem finalidade precisa. O dia tóxico do adeus.

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