terça-feira, 23 de março de 2010
Domingo, velhos, crianças
Era domingo, e os velhos tinham mais cabelos brancos
na rendição. Mais consoantes mudas. Mais habilitações
para deixarem de falar mais cedo.
A injustiça invade de neve as cabeças dos mais incautos
e aos domingos a minha espécie é de uma sinceridade trágica
e insular e adoece em todo o seu enunciado
depois, um longo repertório de passos dados em falso
põe cabelos brancos nos homens e humidade
nas paredes irónicas que educam o cenário
atrás esconde-se uma fábrica de misericórdia
pouco merecedora de aplausos ambientais
e à sua volta brincam crianças lendárias
com elementos provenientes do carnaval
oportunista da sua vida real
e é nas suas perucas loiras de esperança
que agora pousa o meu olhar.
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