sábado, 7 de maio de 2011

Retábulo de noções primordiais





São as noções que fazemos um do outro que se despem, nós não. Nós apenas observamos com desespero, poética de espelho e malícia o corpo nu das noções, as suas inúmeras vilosidades e axilas friccionadas. E a forma como elas se confrontam na ofensa que o desejo fixa, na noite do olhar mais árido. Nós somos só os convidados das nossas noções, os escravos vestidos ironicamente de convidados das nossas noções, e por vezes até nem isso, nada mais do que a pretensão opaca da indumentária.



É como que se tivéssemos levado as noções que ambos fazíamos um do outro a uma festa com piscina, troca de casais, alguma esperança de certa forma atlética na sua convicção de derrocada e o rasto de drogas finas e tentaculares. É como Marte, essa nudez aplicada ao outro com uma sede de esboços retrospectivos e escaparates, ponte móvel de si para si, para deixarmos passar o navio
sem sentido




sobre o mar de nada.

3 comentários:

  1. Olá,
    Como sempre,
    vai sendo fabuloso o que ofereces.
    Como tão bem achas o "ponto certo"
    também a "redizer", destaco "ponte móvel de si para si" e "...o navio...",
    Continuação de bons escritos

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  2. Perfeito... como sempre...
    ;)

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  3. Pela primeira vez aqui... gostei muito. Voltarei.

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