sábado, 30 de julho de 2011

Bucareste



À falta de vampiros e adjectivos,
Bucareste dormia com a complacência
de uma vítima cercada pela sua pose mais bela.
Bucareste sonhava que era Estocolmo
sob a forma de síndrome, em Bucareste.
E que o nevoeiro, essa língua franca e letárgica,
latina, espessa, bífida, sempre adjacente ao brilho,
como os gatos à constatação da festa,
sempre tão desassossegadamente quieta,
para além do Dâmboviţa, banhava Bucareste.
Bucareste sonhava consigo em Bucareste,
mas era já demasiado tarde
para que se apercebesse de si,
consigo em Bucareste
e, por isso, não sonhava
bem consigo em Bucareste
mas com o reflexo de uma Paris
estacionária e raquítica.
De repente, é como que se dois desencontrados sofressem
a mesma esquina.
De repente, é como que se a vida fosse de facto difícil,
mas difícil com sabor a morango e baunilha,
difícil com tremendos trejeitos de alegre.
De repente, Paris desaparece. E só resta Budapeste.
De repente, os desencontrados acendem
tudo aquilo que os separa de tudo
aquilo que os separa de sempre. E friccionam a pele.
De repente, os prepúcios do acaso
sangram e rompem
desrespeitando completamente
a vulva do magnífico.

1 comentário:

  1. Estiveste em Bucareste?

    Nunca estive. Assim torna-se difícil entender. Mas dá desejos de ir...

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