sábado, 10 de dezembro de 2011

Pierre e Anne Villeneuve



Motivado pela brusca e impiedosa implosão do seu casamento com Anne, que já durava há mais de 6 anos, Pierre toma duas tabletes inteiras de Diazepam e enquanto espera o eclipse total imagina que viaja numa nave a uma velocidade próxima da velocidade da luz e que se ausenta da Terra pelo menos durante um ano, contado pelo seu velho relógio digital. De regresso, descobre o planeta centenas de anos mais tarde. Antes mesmo de procurar ficar ao corrente das mais recentes condições de vida na Terra (e em particular no seu país e na sua cidade), das notas dominantes do progresso tecnológico e humano e tentar encontrar um lugar onde atenuar o impacto com a nova realidade, dirige-se ao Cimetière du Nord, Rennes, França. Apesar dos inúmeros transtornos tecnológicos, das aberrações urbanísticas e infra-estruturais que grassaram um pouco por toda a cidade, o cemitério conservava ainda a sua identidade oitocentista e provinciana, intacta a entrada monumental, os caminhos e as ruínas circulares. Não foi, por isso, muito difícil descobrir, ao fundo da Section I, o pequeno túmulo de Anne.
A simples perspectiva de ter participado num homicídio notável e descatalogado, por falta de provas que condenassem um homem, que apenas se ausentou da cidade, do país, do planeta durante pouco mais de um ano, da morte da sua amada, causou-lhe uma violenta e generalizada crise de riso incontrolável, seguindo-se quase imediatamente um emudecimento biológico total.

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