terça-feira, 6 de julho de 2010

Estátuas de calor




O calor cala a cena habitual,
inunda de nudez e estátuas
as nossas novas instalações.
Despromove o equilíbrio do corpo.
Instaura uma regra movida a indisciplina,
uma vida de estilo barroco minimal.
Enquanto a ideia da água
veste o vestido de noite
donde sobressaem as suas próteses
insolúveis na sedução.

Cada um com o seu infinito pessoal e muita pele ambígua
atravessa o calor.
Há um anjo na personalidade utópica da ventoinha.
As horas engordam. Algumas mais exageradas,
chegam mesmo a morrer, sem darmos por isso.
Os animais não dormem: derramam
lentamente o seu instinto
amador.

As faces abandonam o seu âmbito
mais ou menos prestável
e pedem pão extemporâneo
às portas das grandes desfigurações.

Eu escrevo numa banheira contígua
histórias de hipertermia maligna
provocada apenas por amor.

3 comentários:

  1. Sabes que odeio calor...
    Se alguma vez calor foi bom, agradável e refrescante, foi aqui! Obrigado!
    Fluidez sinfónica em ambiente tórrido!
    Amei!

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  2. A descrição do calor está perfeita, não haja dúvida que tudo se transforma desde o comportamento até aos corpos que transmitem mais sensualidade. Homens e mulheres ficam mais expostos e sedutores. As cabeças ficam quentes e parecem ventoinhas a olhar para tudo e todos e a paixão paira no ar. Faz-me lembrar o título do livro de Frank Ronan, "Os homens bronzeados ficam bonitos" e as mulheres também. O cheiro é diferente nesta época do ano e o mar? Só apetece mergulhar nas águas límpidas do Oceano para refrescar e se acompanharmos com uma bebida fresca, fica perfeito.
    A imagem, como sempre, mostra o quanto é bom ficarmos frescos como as estátuas de mármore, só que elas não se movem e nós temos a vantagem de escolher o nosso caminho com liberdade, o que não acontece com as estátuas. São colocadas onde o homem quiser e nada dizem e apenas são contempladas pelos mortais.
    Gostei da tua descrição do calor!
    A tua amiga
    Princess Deo

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  3. A poesia não se comenta. Come-se. E eu cada vez mais venho aqui a me nutrir.

    Obrigada por partilhares a mesa com quem tem fome de palavras cruas.

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