sexta-feira, 9 de julho de 2010
La pistola virgen: o período refractário ao espelho
Logo estarei na indiscretíssima janela
de um quarto com vistas
para um lugar indecidível,
uma praça à qual lhe faltarão
memória e clientes,
uma oficina sedada
no meio de um deserto doente
diante do teu fastio.
Retrato tipo passe, senhor passageiro,
tenha uma boa viagem de regresso
da desgraça de não ter havido
um só momento de paz enquanto
não desaparecias em mim.
Do tipo: olha eu aqui,
patético e manuelino,
encaixilhado na minha falta de talento
para te perder e pagar promessas
numa casa
com paredes imperdoáveis de nascença
e chão arrependido
numa casa
de inconfessáveis janelas sem caixilho
e vidros sem vida por malícia
e um telhado tecnicamente infiel
e um ar pesado e incompetente
e incompreendido.
Um dia tu passarás, como todas,
debaixo da minha janela indiscretíssima
sem me ver, através de mim, através da técnica
dos fantasmas em serviço
e, misteriosamente, aceitarás viver sem signos
e sem recompensas
num quarto alugado como o meu,
num hotel de gelo incerto
na capital da insensatez.
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Acutilante e espasmódico.
ResponderEliminarGenial.
Mais um belíssimo exercício de perfeição.
Ler-te faz-me sentir bem comigo próprio. És humano, demasiadamente humano, irmão.
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