quarta-feira, 21 de julho de 2010
Expiação
dói-me o teu aparelho longínquo,
dói-me o irresistível artesanato
da distância,
dói-me o irrespirável teatro
ortopédico da salvação,
dói-me o choque frontal do amor
com a sua tremenda falta de humildade,
dói-me a anestesia do teu lugar vago,
dói-me a dança esquelética da minha dissimulação,
dói-me a propaganda póstuma das tuas mãos,
quando aplaudem a castração do herói em palco,
quando atrasam a pesquisa para a cura da neoplasia
da eternidade,
quando investem todas as suas economias e auroras
numa dimensão mais intolerante,
quando massajam a minha culpa ciclópica
e maltratam o meu endereço final.
dói-me, sobretudo, a grande subjectividade da dor,
a arquitectura desmaiada da esperança,
a longa travessia do rio líquor a nado,
a falsa assinatura dos seus contratos nervosos
com o imperdoável,
e o preço que eu pago
pela minha dor elegante
nas lojas mais prestigiadas da cidade
arrasada do amor.
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É um poema transmite de uma forma chocante a revolta que se sente por muitas vezes sermos obrigados a fazer teatro e não sermos nós próprios. É difícil na sociedade em que vivemos, sermos livres e não sermos julgados pelas aparências.
ResponderEliminarO pensamnto, por enquanto ainda não é controlado, mas virá o tempo em que inventarão uma máquina para nos controlrarem os sonhos, as aspirações, o prazer. Como seria bom vivermos livres e selvagens.
Aiiii... tanta dor... e tão liiiiinda!
ResponderEliminarMy heart aches of joy as I read You.
Aplaudo de pé... emocionada pela brandura de estilo, fereza de corpo e espontaneidade de forma!
Mais uma obra de arte.
Parabéns Mestre.
*
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarNão consigo dizer nada pois fiquei emocionada com o sentido das palavras. Comovente e lindo este poema.
ResponderEliminarFiquei com um nó na garganta ao ler este poema. Consegues transmitir através deste poema o que muitas vezes sentimos e não conseguimos exprimir.
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