terça-feira, 16 de novembro de 2010

Viagens na minha técnica




Conheço a história de alguns portugueses que foram a Espanha comprar orgulho e nunca mais de lá voltaram. Levaram consigo apenas um guião, cheio de falas e indicações para a sua nova personagem, uma muda de roupa, e os cristais sinuosos e imanentes do frio que foram acumulando, durante anos, aqui.
António José de Oliveira e Silva, por exemplo, doravante Carlos Fernández Muñoz y Marquez, recebeu instruções muito claras, mal se dispôs a partir, sobre o seu novo papel no país vizinho: usar o passado só em caso de extrema necessidade e sob as vestes intolerantes dos novos desígnios; obrigatoriedade de mudar de estilo, corte de cabelo, cor dos olhos, altura, peso, profissão e raízes; pedir transferência imediata da dor antiga para uma dor mais moderna e assertiva; mandar tosquiar os preconceitos e circuncizar as fobias; e, sobretudo, pôr a nostalgia a trabalhar em seu próprio benefício.

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