sábado, 23 de julho de 2011

Os desequilibristas



Admiro a arte menor dos desequilibristas.
Dão-lhes um rumo, um método, um fio
suficientemente largo para a passagem,
tão breve, da vida, tão breve,
mas mesmo assim eles ousam desafiar o fio,
eles promovem a estreiteza no máximo
da largura possível, eles imaginam,
por exemplo, 400 quilos sobre um fio,
um touro sobre um fio, por mais largo que seja,
cai na indisciplina
e na mais brutal transparência
e eles com tesouras no sorriso
celebram
a sua magnitude mínima.
Os desequilibristas endossam o mundo.
Precavêm-se da impossibilidade do paraíso.
Filhos da tontura, netos do improviso,
os desequilibristas aprendem a cair,
ensinam a cair, sem, no entanto, se deixarem levar
pela insalubre omnipresença da queda.
É que os desequilibristas caem noutra queda.
Aquela que origina sempre
novos desequilibristas
e quedas por vir.

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