domingo, 30 de maio de 2010

Notícias do Inferno





No inferno, reencarnamos a cada minuto que passa
numa nova comédia viva. E isso cansa, inevitavelmente, cansa
o teatro anatómico do tempo, as estruturas tortuosas
do pensamento racional a que nos tinhamos habituado em vida
e os costureiros da má fé são dos únicos
que não pagam o tributo do zapping genesíaco
para trabalharem dia e noite nas oficinas da inconformidade geral.
Tudo isto pode ser ainda um pouco mais severo
se tivermos em conta que o diabo nunca existiu.

O inferno pode inclusive ferir
a insensibilidade dos espectadores
mais distraídos com questões pirotécnicas
ou com as sessões permanentes de sexo ao vivo
entre os seus conflitos mais nítidos
e toda a organização do festival.

Neste sentido, o inferno não só são os outros,
mas os outros que já não são eles próprios
e eu mesmo quando deixo de ser eu mesmo,
fora dos sessenta segundos que me justificam
e em que ainda é possível assegurar a analogia.

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