sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Didáctica da mentira





Levitar é mentir. Tentar escapar às leis de Newton dá prisão perpétua, como a água que nasce, dita caminhos com desdém e lógicas imprevistas e, no fim, suicida-se nas altas temperaturas da parede que a detém para sempre no seu imenso oblívio,
como uma progressão aritmética sem razão, constante ou juízo.

Na próxima encarnação serás rastejante, que é o cúmulo do terrestre, que é para veres porque nunca deverias ter tentado mentir.
E rastejar é a forma mais acabada de prestar vassalagem à terra, com todo o nosso ser, dignidade incluída.
Por isso, a levitação está proibida. É-se obrigado a dizer a verdade sempre. A verdade do nosso peso terrestre ao ouvido das cicatrizes, que também se movem sobre o solo, ainda que sobre um solo fictício, onde a esterilidade fez governo e raízes, o desemprego grassou e o mundo fingiu um passado em comum com o resto do corpo que é ar, água e fogo fundidos.

Por isso, evito levitar em público. Continuo a achar que será
sempre melhor haver mais quem em nós nunca acredite.

1 comentário:

  1. ... credo master... tanto bitterness...
    Gostei, como sempre, mas sente-se azedume biliar à légua!
    A primeira estrofe está muito camoniana pela densidade sintáctica enquanto que a simbólica é mais "fiammica".
    (é só a minha humble opinion!)

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