terça-feira, 14 de setembro de 2010

Notícias do Inferno





A questão é o trânsito sempre caótico nas vias principais do inferno. Só de helicóptero poderia cortar os membros supérfluos dos anjos e viajar até ti, que estás no céu de quarentena, tão descalça quanto aborrecida de tantos monossílabos ideais e sufocantes carícias.

Não fosse este pequeno pormenor e as distâncias inabaláveis que ainda pesam sobre as duas estâncias fixas - nós, dir-te-ia que há um lugar no purgatório, totalmente patrocinado pelo mal implícito, onde a clandestinidade está vestida de branco e os rumores de bom sexo e melhor asilo já chegaram, inclusive, às portas do paraíso, ainda que deturpados pela vulgar consciência de quem os repele por rivalidade, diferente cor política, ou apenas enquanto gesto reactivo,
como a virgindade velha da inveja camuflada de sermão.

E abolindo a pertinácia desses pormenores, a minha proposta é a de que nos encontremos precisamente neste sítio. Afinal, no inferno as distâncias não estão assim tão doentes que não possam – como no paraíso – não existir, e há bem pouco tempo foi inaugurada uma auto-estrada (que ainda carece de limites) entre o Inferno e o Céu, passando precisamente por essa área de infracção aberta
24h por dia,
para quem, como tu e como eu,
precisa muito de voltar a sofrer
lesões e orquídeas.

3 comentários:

  1. Amigo Poeta, simplesmente gosto deste poema. Fiquei arrepiada com o título, mas depois de o ler, fiquei sem palavras.

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  2. the genie is back!
    ;P

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  3. A relação das coisas ou como se espalha a palavra num universo social

    Pensar numa relação impõe um elemento central separador e descodificante. O “entre” coisas do universo poético prepara a prosa da poesia para um casamento matriarcal como sentido sensual do objecto pensado, para uma conjugação com o sujeito que lhe escapa. É precisamente nesta tentativa de consumação substancial do poético (que, por inerência nunca o é totalmente) que a sua poesia se desliga do universo actual e projecta a originalidade que o protagoniza como poeta de mérito a ter em conta! Parabéns!

    E.M

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