segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Fomos apanhados a desaparecer




Fomos apanhados a desaparecer
do mundo, uma noite em Madrid,
cobertos de decibéis e querosene,
depois de termos gasto metade do corpo
em tratados de tauromaquia,
massagens idiomáticas
e aulas práticas de suicídio
reversivo.
Era costume atirarmo-nos para a noite
e darmos saltos ornamentais
da plataforma da vida
para uma piscina de corpos
com menos de um metro de profundidade
e águas amarelas.
Era nítido o desejo pelo desaparecimento,
como uma aparição em ruínas.
Mas a pátria recomeçava invariavelmente no dia seguinte,
bombardeada e indiferente.

Hasta aquella fría noche de Madrid,
en una casa ubicada en la Avenida de los Aparentes,
cuando hemos por fín comprendido
la sagrada inutilidad de desaparecer.

1 comentário:

  1. É o retrato de um estado de satisfação/insatisfação. O querer e não querer que a magia de um acontecimento permaneça para sempre ou então a desilusão de quem quer estar e ao mesmo tempo fugir para que a magia não desapareça. A descoberta seduz, o pior é o total conhecimento que acaba por desfazer o sonho. Felizes os que conseguem que a magia não desapareça e vivem num sonho infinito em que tudo ao redor não conta. Infelizes os que acordam para a realidade e tudo volta ao normal e é impossível "desaparecer". A vida prega-nos partidas que não temos como sair delas.

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