sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Linda Helmut Falls



Linda Helmut Falls aproxima a sua arte do fogo gelado do quotidiano e desloca-se sobre a incompreensão. Ela sofre de um gravíssimo transtorno de ansiedade e a qualquer momento podem surgir no seu corpo manifestações mais ou menos caóticas de uma crise anunciada, óbvios sinais de derrota homeostática transformados em quistos, apêndices, edemas, montículos, tentáculos, feridas abertas e inadvertidas cicatrizes imperiais, que nos chocam mais pelo modo como assinalam a sua supremacia arbitrária do que propriamente pela sua complacência irreal.
Há dias, em que os efeitos empreendidos pelas somatizações no seu corpo são tão radicais que ela acorda com os olhos nos joelhos, um minúsculo braço definhado nos lombares, dois dedos implantados na nuca de forma perfeitamente extravagante, unhas encravadas no desejo, pestanas no palato, uma vagina suada na palma da mão e uma boca na planta dos pés, com os lábios vermelhos muito pintados, como que para marcar o caminho de volta ao estado normal.
Mas a aparatosa arte de Linda não vende. Os tempos mostram-se mais propícios a interrogá-la como uma curiosidade ou uma aberração e a crítica recusa-se a ver nesta amálgama de erupções e deformidades um grito mudo da inocência rebelada de uma mulher que, mais do que uma vítima da estranheza incapacitante, é uma artista involuntária da sua terrível condição.

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