sexta-feira, 2 de março de 2012

O estranho caso de Diamanda Déspota



Diamanda Déspota tem 10 anos e é uma criança erudita. A super-erudição infantil é um tipo muito raro de sobredotação que exclui quaisquer propósitos vigentes no equilíbrio. A intolerância ao mundo enfatuado dos adultos é um dos sintomas mais salientes. A essa intolerância severa o cérebro organiza uma série de démarches para que o doente continue a viver apesar de todos os pressupostos terrestres absolutistas. No caso de Diamanda, é muito notória a inversão apocalíptica. Virar o mundo ao contrário é uma das respostas possíveis num universo onde o que é sentido como essencial não atende. Diamanda atira uma maçã ao ar e ela recusa-se a cair. “Para compensar, a lua aproxima-se da Terra a uma velocidade relativamente aflitiva”, diz ela, com um sorriso congelado e escorregadio, os lábios pintados de vermelho vivo, a cauda da inocência a arder.
No seu contra-mundo, as pombas revoluteiam como moscas à volta de lâmpadas acesas, que iluminam quartos minúsculos, onde só cabe a inconveniência cega e dois ou três desejos sem perfil. É normal, por exemplo, encontrar crianças destas a brincar com as suas novas mutações e incongruências, que a sua aprendizagem supérflua promove e exime, como se fossem brinquedos trágicos e fiéis. “Os adultos, diz Diamanda, têm o estranho hábito de baterem com a cabeça contra as paredes, e ainda por cima, com uma força francamente superior àquela que tinham inicialmente previsto.”

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