segunda-feira, 12 de abril de 2010

Depoimento



I

Há uma caixa negra dentro
da finalidade do mundo
como uma manhã fictícia
que só um grande acontecimento
consente.

Há uma face humilhada
pela presença súbita da chuva
no argumento do meu medo
a única fala que tenho de saber
de cor até ao dia da estreia
do teu convite.

Há um presságio agitado e concreto
entre o teu desaparecimento e o meu
vício de o exibir.

Há uma comunidade inconfessável
que habita a órbita do esquecimento
do mundo nessa parte do mundo
inconfessável por natureza
que é o esquecimento de si.

II

Pouca gente se apercebe
de que há um plano ultra-secreto
para destruir a sociedade
com assédio e um certo tipo
de flores desfavoráveis
aos cardíacos:
as carícias.

Os amantes vivem melhor mergulhados
no verbo matar de forma ridícula
e são vizinhos de um destino caído
em desuso pela probidade da terra.

Não tenho pena nenhuma destes tristes
que se enforcam com o seu próprio êxito.

Não temo sofrer da mesma notícia
nem sequer vir a ter o mesmo domicílio
de certezas doentes.

Sei perfeitamente
que o mundo não é aquilo que aparenta
ao espelho do seu tempo
nem nas suas mais antigas superstições
há relatos de um abraço tão severo
como foi aquele que nunca demos
por falta de braços na exactidão.

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