segunda-feira, 24 de maio de 2010

Perigo de esquecimento global




O mundo está suspenso
por uma mnemónica
exaurida.
Já nenhum mês tem 31 dias
contados pelos nós
das nossas mãos.
Milhões de pessoas
esquecem depressa que vivem
depressa e usam
a abertura absurda do mundo
como despensa e intestino,
abreviaturas quando
se lembram de ti,
uma coroa de flores de sono
que te oferecem enquanto
dormes coberto
de distância e formigas.
Os teus melhores amigos
fazem de ti uma ideia difusa
quando dormem pouco
e vão trabalhar de manhã cedo
com a mesma nódoa de whisky
na camisa que levaram na última vez
em que estiveram juntos
e brincaram às hemorragias.
O tempo é um grande diurético,
já diziam os antigos.
Mas a mulher que amaste há mais de dez anos
e há mais de dez anos amas, sem reservas,
embora se degrade e degrade ao som assumido
e sincrético da mais eficiente fisiologia
todos os dias da tua vida
e se pareça já mais com um escombro do sentido
do que com aquela que deixou a sua imagem pesada
e convexa no camarim da letargia

mesmo essa, precisamente essa,
não te poupa o carnaval das suas réplicas diferidas
cada vez que te aproximas de uma nova possibilidade
de amares outra vez outra viciosa despedida
e assim sucessivamente até ao fim
se é que o fim não estará ele também suspenso
por uma mnemónica com inúmeros problemas
de existir.

4 comentários:

  1. Este blog está genial, adoro essa expressões fortes usadas nas metáforas para dar ênfase à mensagem que pretendes transmitir.

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  2. Os títulos também estão geniais. Usas expressões de temas actuais, conhecidas pelo público em geral, que são modificadas para dar um título que cause interesse ao leito. Esquecimento global e um desses títulos, que faz lembrar o já tão falado aquecimento global.

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  3. Obrigado Anónimo e Vi. Um abraço aos 2.

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