sexta-feira, 2 de julho de 2010

Uma casa para a apostasia




Não tenho uma só casa para a apostasia.
O meu afastamento não permite limites
perfeitos
nem pegadas que indiquem qualquer acontecimento
impreterível
e, no entanto, eu já passei por ali,
já fiz com que o espaço se dilatasse para que eu pudesse
passar por ali
com o meu tempo excessivo e retraído
mas nem uma morada ficou para contar,
nem uma pensão, nem um mote de hotel de estrada ou de esquina
nem a derme crucial de um banco de jardim
todo voltado para a descrição ofegante da paisagem.

Nem a morte me deixou lá dormir
quando soube da forma como eu
desacreditava

e como era necrodinâmica
a minha vida.

1 comentário:

  1. A minha primeira interpretação, é que o poema fala sobre os sem abrigo, mas não só, pois é um sentimento que muitas vezes sentimos, o perder algo, a não aceitação dos outros e a solidão que muitas vezes sentimos quando estamos no meio da multidão. Uns conseguem remar contra a maré, outros deixam-se ficar comodamente no seu canto à espera que a vida venha ter com eles.
    André mais uma vez, conseguiste, através de um poema, arrastar-nos para a realidade e pensar que vale a pena viver. Obrigada
    A fotografia é bela e chocante ao mesmo tempo.
    A tua amiga Deo

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