quarta-feira, 30 de junho de 2010
Despedida no deserto
Não é tanto a tua carta fisionómica que me pede
que a assevere com a chancela do meu mal.
A minha melancolia está antes no deserto,
sexualmente envolvida com tuas premonições
mais singulares.
Querias tanto ir ao deserto que a vida abreviou
num deserto. E a imensidão deu provas
de uma ingenuidade sem par,
enquanto tomávamos altas resoluções,
e queimávamos a retina
e já nada nos retinha em nós mesmos
excepto a falta de ar
e de paz
e de depois.
Por outro lado, o pôr-do-sol no deserto
protege-nos dos lugares onde cresce
a iniciativa.
A falta dela absorve as infelizes frequências do fim.
À falta dela despedimo-nos.
E o fim é uma fonte
a esgotar-se lentamente
nas agências leprosas do tempo.
Porque o feto pusilânime, a cria lenta, continua a morrer
porque a profissão do que perdemos é ser persistente
continuamos a perder.
Porque ainda se pode fumar na sala de espera
do inferno.
E consultar a biblioteca
e cuspir para o chão
das despedidas.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
... doeu...
ResponderEliminarQueres que morra?!
Se era isso, deixa cá ver na agenda quando posso marcar o serviço fúnebre!
Maravilhoso!!! O veneno, talvez, seja mais bonito e mais lírico do que o antídoto. Será este, também, o seu o motivo?
ResponderEliminarParabéns pelo Blog; Bonito, sensível e afiado como um corte de navalha.
Lúcia Gönczy
Obrigado pelo comentário Lúcia! Bem-vinda. Um beijo.
ResponderEliminarEu que agradeço por tê-lo achado! A identificação que ocorre entre o escritor e o leitor é mágica, única, alquimia pura. E isso aconteceu comigo assim que li seu primeiro texto.
ResponderEliminarBeijo e muito sucesso.