segunda-feira, 28 de junho de 2010
O beijo e o pormenor
Beijo-te:
regressa a paralisia do sono
uma ave sem asas ao apelo
e ao agravo
e as grandes questões
fazem agora parte de uma dieta
rica em represálias
e pormenores.
E a propósito de um quarto fechado
numa determinada técnica,
numa indeterminada Era,
as pessoas praticam a apneia
da razão ao pormenor.
A asfixia é uma máscara generosa
de rescisões.
Entretanto, corre uma brisa
torcionária ao nosso redor,
um circo ambulante inflama a povoação
mais próxima dos ângulos caídos
em desuso pelo latim das línguas refractárias
as bocas abrem-se mais e melhor
pelo caminho, perdem-se alguns pormenores
não obstante uma febre aftosa de pássaros
uma primavera que procede de Hitchcock,
e as ruas desertas, de certo modo um silêncio
supersónico que as coloca nos escaparates
da hora inferior.
E provavelmente o melhor champanhe
vigilante do mundo
as luas doutoradas em Saturno
e as estrelas andrajosas da circunstância.
Não há luzes mais ingratas
nas imediações
do céu da boca.
Na louca distensão da caverna, os prisioneiros
vêem pornografia barata
e ouvem coitos de fadas ao deitar
e recebem as penúltimas
instruções.
E a noite toda é uma fábrica extravagante de coser
diálogos às repúblicas dos rostos sucessórios do amor.
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Gosto do seu tom provocativo, instigante. As múltiplas referências de sua escrita me trazem o riso e a inquietação... Nunca sei onde o próximo verso pode me levar... E aí continuo a ler presa na armadilha de Sherazade...
ResponderEliminarEncantada de leerlo...Espero leer muchas de sus obras....
"practice makes perfect"...
ResponderEliminar...no teu caso, meu querido menino:
practice made perfection, uma vez mais...
um exímio exercício de beleza e equilíbrio inebriantes...
é sempre bom amanhecer assim, sem fôlego!
;)