domingo, 6 de junho de 2010

Elogio da imperfeição




A maior avenida não é a da liberdade.
Há lugares que só na proibição se acendem.
Por exemplo: uma mulher quis ser uma sereia
célebre e ofereceu metade do seu corpo
à ictiologia e à natação.
Mandou vir a mudança radical pela internet.
Como se esquecera de especificar o animal
marinho, trouxeram-lhe um fato de cefalópode
sem possibilidade de troca ou reembolso
de esperanças.
No entanto, a mulher que queria ser uma sereia
célebre não desesperou. Vestiu o fato
e comprou um microfone para cada tentáculo
e foi para a avenida da liberdade cantar.

4 comentários:

  1. Um perfeito trabalho de intertextualidade artística.

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  2. A mais bela metáfora que já li sobre como a liberdade terá sempre um modo de dizer em maiúsculas sua voz feminina, seja em que trajes ou ultrajes [re]vestirem suas letras.

    Parabéns.
    .
    .
    .
    Katyuscia

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  3. a necessidade aguça o engenho? :)

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  4. lembrou-me de um conto de amor índigena a primeira estrela que vejo é a estrela de meu desejo.
    A possibilidade de recriar a existência de onde ela estiver.

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